Saiu uma publicação do WRI Brasil, dos geógrafos Guilherme Iablonovski e Henrique Evers (link: https://doi.org/10.46830/wriwp.23.00156) a respeito da expansão horizontal e vertical nos últimos 30 anos nas cidades brasileiras. Parte da conclusão desta análise métrica e crítica é de que houve um maior volume de construções de prédios nas cidades do que crescimento populacional, principalmente nas cidades grandes e médias. Em cidades médias foi um crescimento duas vezes mais rápido que o crescimento populacional.
Esse artigo, que apresenta uma análise bem detalhada, contribuiu para as reflexões que tenho feito sobre o futuro de Jacareí, exatamente a respeito de sua expansão vertical, como assistido nos últimos anos. O Plano Diretor, em sua revisão – recentemente aprovada pela Câmara sem audiência pública – permite, agora, o aumento da área urbana da cidade, um “prato cheio” para o crescimento de unidades residenciais numa verdadeira “paisagem de paliteiro”. Contudo, teremos “dentes” para tudo isso?
No estudo apresentado, os autores apontaram que nas cidades de maior verticalização (mais prédios residenciais e comerciais, principalmente em capitais), muitas construções são subaproveitadas, isto é, são imóveis vazios que as pessoas compram apenas para especular no mercado imobiliário. Porém, mais construções equivalem também a maior gasto público com infraestrutura, mesmo que pessoas não morem lá.
Mais: quanto mais construções, ainda que com menos pessoas, maior é o aumento no preço dos imóveis naquela região, dificultando quem deseja comprar casa para morar, não para brincar com o mercado financeiro. O aumento da verticalização em Jacareí terá a presença do Poder Público Municipal para combater esse aumento do preço?
Há quem defenda que o setor da construção gera empregos, o que contribui para a economia da cidade. Quantos desses empregos são diretos e permanentes? Qual o custo público do aumento de prédios? Mais gasto com infraestrutura para distribuição de água, coleta de esgoto, coleta de lixo, zeladoria urbana, iluminação pública, rota da guarda municipal, possível aumento de carros circulando, entre outros.
Nesse cenário futuro, também é questionável se Jacareí será uma extensão da periferia de São Paulo, reproduzindo a mesma lógica de uma cidade-dormitório com residências cujos moradores não “viverão” a cidade, e, portanto, a consequência de menor compromisso do Poder Público com a qualidade de vida local. A cidade poderá ter até mais eleitores, mas serão cidadãos que desejarão uma cidade sustentável ou apenas vias para seus carros acessarem a Rodovia Dutra?
A revisão do Plano Diretor vem com a promessa de sustentabilidade, como a infraestrutura verde, além dos gastos já realizados para o combate às enchentes. Eles serão suficientes com o aumento da impermeabilização da cidade? Qual o futuro dos bairros que estão na várzea do Rio Paraíba do Sul? Estes custos sobrarão para o bolso de quem?
Uma cidade pode ter crescimento vertical, isso pode ser sustentável como as chamadas cidades compactas; o setor da construção movimenta a economia, e o que apresentei aqui é uma série de questões possíveis, não determinantes. Entretanto, é fato também que na história das cidades brasileiras, os agentes do mercado imobiliário sempre foram beneficiados, com ônus arcado pelo setor público, e que ônus!
Gustavo Montoia é geógrafo e doutor em Planejamento Urbano e Regional pela UNIVAP. É docente dos Colégios Univap e da EE Francisco Feliciano F. da Silva (Verdinho) e pesquisador-colaborador do Laboratório de Estudos das Cidades da Universidade do Vale do Paraíba. @semanariojornal
Empresa Jornalística e Cultural Semanário de Jacarei Ltda.
CNPJ: 20.128.966/0001-16
Diretora geral: Inez Valezi
Idealização/desenho: Inez Valezi
Design/produção: Matutar.com
Tel: 12- 98125.9297
Todos os direitos reservados.
Este é o WhatsApp do Semanário de Jacareí e Região, em que podemos ajudar?