Um Plano de Arborização para as Cidades

Gustavo Montoia

Cada vez mais as cidades e seus municípios são chamados à responsabilidade para gerir ações de mitigação climática. Plano de combate às enchentes, saneamento básico, áreas de proteção ambiental e revitalização de nascentes são alguns exemplos que prefeitos e seus secretários devem se preocupar cada vez mais.

O que era considerado segundo plano na gestão pública local, hoje mostra-se necessário para a qualidade de vida de seus habitantes e os vereadores são responsáveis por esta fiscalização e proposição responsável. Um político profissional, cuja pauta não condiz com preocupações ambientais deve ser carta fora do baralho. Chega de vereadores que realizam apenas perfumaria, que brigam por nomes de ruas e não apresentam planos e nem resultados em seu mandato!

Com essa onda de calor que o país vai passar nestes dias próximos, existe um novo normal em nosso inverno, agora com uma média mais quente ao que estávamos acostumados. Nessa realidade, cada vez mais um plano de arborização se faz necessário no ambiente urbano.

As árvores contribuem para o microclima local, com mais evapotranspiração, portanto, mais umidade, com sombras que contribuem para a diminuição da temperatura e com suas raízes que favorecem uma maior penetração da água das chuvas. Absorção de carbono, redução do fenômeno das Ilhas de Calor e redução das enchentes são outros exemplos positivos com maior arborização.

Na cidade de São Paulo já ocorreu um projeto chamado “Florestas de Bolso” que consiste em arborizar partes da cidade (como aquele espaço vazio das rotatórias) que favorecem até mesmo as aves com árvores frutíferas da vegetação local. Esse projeto, realizado pela iniciativa privada, pode, também, se tornar um programa público!

Em iniciativas como essas, não falamos em plantar eucalipto! Precisamos de espécies da vegetação local, com orientação de especialistas até mesmo na forma do plantio. Profissionais dessa área, como biólogos, botânicos, engenheiros florestais, geógrafos, são um corpo técnico cada vez mais necessário dentro das prefeituras, nas consultorias e até mesmo nas empresas cujos administradores não apenas cumprem, mas possuem um papel sustentável nesse mundo de emergência climática.

As cidades já apresentam reflexos de gestões que favoreceram especulação imobiliária colocando os mais pobres para morar em espaços mais precários, em intensa impermeabilização com o mercado de construção que contribuiu para enchentes, em pistas e mais pistas para os carros, construções de viadutos, retificação de rios com aumento do assoreamento, e tantos outros exemplos que pioraram a qualidade de vida aumentando dificuldades sociais à precarização da vida coletiva, o que afeta a saúde pública e só aumenta a nossa insatisfação.

Estamos em uma época cujos resultados desejamos ver nas nossas ruas, no parque público próximo às nossas casas, nos bairros que não são mais ignorados e no selo de cidade sustentável cujo saneamento básico seja real. Precisamos garantir para nossos filhos cidades melhores.  

Gustavo Montoia é geógrafo e doutor em Planejamento Urbano e Regional pela UNIVAP. É docente dos Colégios Univap e da EE Francisco Feliciano F. da Silva (Verdinho) e pesquisador-colaborador do Laboratório de Estudos das Cidades da Universidade do Vale do Paraíba

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