Qual candidato vai encarar a pauta ambiental?

            Quando assisto tragédias socioambientais, tais como a que assola o estado do Rio Grande do Sul, tenho muitas dificuldades em aceitar a justificativa de que choveu demais. De fato, choveu bem mais que a média, contudo, o “novo normal do clima” será a conformação de que sempre nossas cidades serão destruídas? É sério que vamos encarar com resignação nossas casas, nossos bens, nossas ruas serem levadas por uma enxurrada?

            O ponto que quero levantar é que uma cidade planejada pode muito mais do que apenas possuir sirenes de emergência para evacuação. Uma cidade com planejamento pode evitar enchentes e alagamentos. Ainda que os milímetros das chuvas ultrapassem as médias, é possível adotar medidas de prevenção.

Dessa maneira, já existe no Congresso, em Brasília, a tramitação de um Projeto de Lei, apresentado em 2021 pela deputada Tabata Amaral, para que os municípios elaborem planos de adaptação às mudanças climáticas. Assim, questiono: qual candidato ao cargo de prefeito em Jacareí vai encarar essa realidade com uma proposta viável e sem negacionismo?

Qual o futuro da cidade para além das obras de engenharia? Como ficarão os arredores do Rio Paraíba do Sul, próximo à terceira ponte caso exista um interesse do mercado imobiliário? Vereadores e administração municipal serão capazes de pensar no bem público ou novas leis de uso do solo surgirão para priorizar o mercado, como já ocorreu em cidades vizinhas?

A cidade de Jacareí é uma grande bacia: com os bairros em áreas íngremes, tais como o Parque Santo Antonio, as águas pluviais vão em direção ao Centro, o ponto de encontro no “fundo” dessa bacia. Bairros como o Santa Maria, Parque dos Sinos e Parque Meia Lua são outros exemplos de planícies que precisam ser pensadas com ações não apenas de escoamento, mas sim de absorção de águas.

Aqui, neste texto, apresento exemplos simples em Jacareí sem diminuir a importância de que pensar o futuro da cidade é pensar nas possíveis vulnerabilidades socioambientais que englobam seus aspectos físicos, como áreas de enchentes, áreas de deslizamento, além do quadro social considerando regiões carentes e potencialmente atingidas pelo drama socioambiental.

Sobre isso, a Organização das Nações Unidas apresentou em 2014 um relatório já prevendo que sofreremos as consequências das mudanças climáticas, isto é, não será mais possível evitá-las. O que o Poder Público e a Iniciativa Privada devem atuar é na busca de amenização e medidas preventivas.

Essa temática é tão discutida na Iniciativa Privada que a pauta ambiental já ganhou espaço permanente no Fórum Econômico Mundial, apenas para reforçar que não dependem apenas de ações estatais para o bem de toda uma sociedade, o mercado precisa se ajustar para essa realidade, inclusive o mercado imobiliário.

Portanto, existem muitas ações que precisam ser planejadas, desde o cuidado com a vegetação na borda dos rios, o aumento de áreas permeáveis, reflorestamento, fiscalização e inovação em uma gestão pública que entenda a necessidade de gastar tempo e pensamento para buscar soluções criativas, construir uma equipe capacitada para evitar desastres e não colocar a culpa no aumento da média de milímetros.

Por isso, aqui em Jacareí, espero que essa eleição seja regada de boas ideias, de compromisso, planos, metas, caminhos apontados e não a falsa certeza de que está tudo bem. Quem vai encarar um desenvolvimento sustentável de acordo com a realidade local? Qual candidato vai encarar a pauta ambiental? Aguardamos.  

Gustavo Montoia é geógrafo e doutor em Planejamento Urbano e Regional pela UNIVAP. É docente dos Colégios Univap e da EE Francisco Feliciano F. da Silva (Verdinho) e pesquisador-colaborador do Laboratório de Estudos das Cidades da Universidade do Vale do Paraíba. @semanariojornal

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