Por um novo olhar feminino

Odete Alves da Silva Guerra dos Santos – Psicóloga clínica há mais de 30 anos, mestrado pela universidade de Taubaté, Formação em Psicanálise. Lecionou nas principais faculdades da região.

A abordagem desta publicação vem acompanhada de reflexões sobre a condição mental da mulher, no enfrentamento das mudanças por que passa e dos papéis que exerce nelas. Muito já se falou e escreveu sobre as conquistas, sucesso e a força da mulher, porém a percepção é de que pouco se trata sobre a importância de sua condição psíquica, pois, como descrito nos versos de Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, muda-se o ser, muda-se a confiança. As mudanças são desafiantes para o ser mulher, o ser filha, o ser esposa, o ser solteira, o ser jovem, o ser não tão jovem, o ser madura, o ser avó. De quanta energia psíquica ela precisa! Essa experiência implica, por vezes, intensos sentimentos de medo, impotência, angústia, somatizações e de adoecimento, provocando um estado de ansiedade, de vazio, de solidão e de insegurança permanente, por ameaçar o desconhecido de si. As mudanças geram expectativas, desafiam a assumir riscos, responsabilidades, a lidar com o mito da maternidade, além de pensar sobre o seu lugar no mundo, sentido da vida, sonhos, e os padrões inconscientes.

É uma experiência complexa e a mente é o refúgio delas. Muitas vezes, ou quase sempre, na pressa do dia a dia, não há acolhimento do que se sente e se abandonam os sentimentos, desde o acordar até o anoitecer, como se fossem insignificantes.

No entanto, mesmo passando por cima deles, eles estão ali e, de repente, não se sabe como, começa-se a sentir dores pelo corpo, choros involuntários, insônias, problemas de pele. Tais sintomas são sinais de que algo não vai bem. Freud aponta que “as emoções não expressas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e saem de piores formas mais tarde”. Evidentemente, é natural e fácil se perder diante desse emaranhado de fios emocionais que ameaçam as transformações de cada um, por “ter se rebelado, debatido, machucado, virado o barco, ter sobrevivido”, como diz Ivan Lins. E, as expectativas, impressões sensíveis da experiência emocional, ainda são desafios: não poder desapontar, errar, ter medo de fracassar, de não ser suficiente. São tantas emoções. Outros tantos sentimentos potencializam pensamentos equivocados, trazem sofrimento: quando ela não se sente amada pelos filhos, pelo marido, respeitada pelos irmãos, reconhecida no trabalho ou pouco valorizada pelo esforço, dedicação e empenho. Como defesa, deseja ter poderes mágicos para se conciliar os papéis e tantos sentimentos. 

É natural o sentimento de inquietação e angústia, perfeitamente comum que se sintam pressionadas e esgotadas; afinal, ainda que sejam fortes, as mulheres não são infalíveis. O risco que a mulher corre com esse comportamento é a tendência à depressão, pois sofrem mais com suas emoções do que os homens, devido às alterações hormonais desde o período pré-menstrual até a pós menopausa. O que fazer com tantas emoções suprimidas, que ganham força sombria, para não criar desequilíbrio e sofrimento psíquico? É fundamental entender o que se passa, acolher, nomear a dor e o sofrimento, as angústias, as tristezas e os medos aflorados. Com isso, abraçar/acolher as próprias inseguranças, medos, dores escondidas, emoções mal resolvidas que ficam pelo caminho; partilhá-las é uma experiência viva que pode ser realizada com ajuda de um profissional, para dar um outro sentindo a essas situações e reações emocionais.

Certamente, a história de cada mulher é diferente, mas uma coisa é certa, elas não costumam fugir de desafios, pois, habitualmente, são seres fortes e (poli) valentes. Elas estudam, criam filhos, mantêm a estrutura de suas casas funcionando e atuam no mercado de trabalho. E assim seguem! Por mais que se possa alcançar os sonhos e desejos, é importante um aparelho mental para pensar sobre a própria condição psíquica.

O trabalho de psicoterapia é a porta de saída, em palavras, para a expressão das emoções e para este novo olhar tão necessário.

Odete Alves da Silva Guerra dos Santos – Psicóloga clínica há mais de 30 anos, mestrado pela universidade de Taubaté, Formação em Psicanálise. Lecionou nas principais faculdades da região.

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