Os últimos 18 meses de cada mandato

O melhor de cada governo ocorre em seus últimos 18 meses. Nessa época ocorre o início de obras ou suas inaugurações, mesmo que as necessidades tivessem urgência há anos, ou, mesmo que fosse fruto de propostas em campanha política. Coincidentemente as dificuldades para implantar é superada perto do próximo pleito, no momento da disputa de uma reeleição ou do lançamento de seu candidato.

Não há constrangimento por parte deles quando estufam o peito para saírem nas fotos! A população está molestada há muito tempo, sofrendo no seu dia a dia, sentindo a falta de uma solução, apontando constantemente aquilo que precisa, mas a comemoração é típica de um benfeitor.

Quando questionados sobre o grande feito, primeiro, vem a justificativa por não ter realizado antes, ainda mais se for no governo do mesmo partido, contudo, se fosse do outro partido é sinalização de incompetência. Segundo, vêm os impasses, pois quando é o pobre que precisa, tudo se torna gasto, arrombo nas contas públicas, “dar o peixe sem ensinar a pescar” e discursos que ninguém mais acredita.

Por fim, depois dos acordos políticos, das barganhas e dos fisiologismos, aparecem as políticas sociais e as obras públicas em um mal-feito que sempre atrasa, que necessita de mais gastos em algo que promete ter pouca durabilidade. Logo, logo é sucateado ou uma reforma grande é anunciada. Tudo isso a favor do povo!

É porque política é negociação, diriam alguns. De fato, viver em sociedade é negociação, mas nestes casos repetitivos em nosso país, nos estados e nas nossas cidades/ municípios, é porque não existe mais nenhum tipo de vergonha. Houve em algum momento? Para suprir a nossa frustração e nossa inércia, discursos moralistas aparecem para dar sentido às nossas decisões nada racionais.

Assim, até o candidato a vereador faz questão de falar que é “a favor da família”, “contra o aborto”, “que nossa cultura judaico-cristã deve ser preservada” em uma dissonância total de suas funções. Os prefeituráveis precisam se recatados, de terno ou vestido, no modelo da família tradicional, escondendo os espartilhos por baixo de suas roupas.

Dessa maneira, aguardaremos mais 20 anos por uma ponte, por uma universalização do saneamento básico, por uma política que adote a sustentabilidade. Enquanto isso, defender cachorro é mais fácil que fiscalizar o pronto atendimento e averiguar as condições de atendimento, equipamentos e eficiência. Elaborar discursos recheados de ressentimento é mais fácil que fazer uma oposição responsável. É o velho falar muito e fazer pouco, agora com discurso que torna o outro em inimigo com prosélitos prontos a tornar real, em seu sentido físico, a violência das redes sociais.

Gustavo Montoia é geógrafo e doutor em Planejamento Urbano e Regional pela UNIVAP. É docente dos Colégios Univap e da EE Francisco Feliciano F. da Silva (Verdinho) e pesquisador-colaborador do Laboratório de Estudos das Cidades da Universidade do Vale do Paraíba.

MAIs LIDAS