O nascimento de um pai

Quando meu primeiro filho nasceu, minha vida então mudou. Pulsação, transpiração e esforço, em sentido literal e figurado, nasceram quando tornado pai fui por aquela criança. Nasci naquele momento quando vi aquela criança chorar pela primeira vez. O dia do nascimento de meu primogênito não foi lá tão fácil, pelo contrário, um dia de tensões, mas que, no final, ao sentar-me ao lado de minha esposa, ainda na maca, chorei de alívio e dessa mistura de sentimentos que haviam em mim.

Quando olhava para aquele bebê sendo aquecido na incubadora, muitos pensamentos que me encanavam foram embora: como vou me comportar? O que vou fazer? Qual a primeira palavra que direi ao meu filho? Será que vou parecer um bobo? E por aí vagueava em pensamentos e sentimentos que simplesmente não tinham sentido nenhum.

Eu sei que aquele dia chegou e eu descobri que era tudo o que eu mais precisava. Não que as coisas que vivi antes dele (agora deles), chegar (chegarem) não fossem boas, mas não me canso de falar que encontrei a felicidade em ser pai. Eu achei um caminho de satisfação, uma maneira de viver além de mim e ainda me pego pensando durante o dia em cada jeitinho de ser desses meninos e como isso é muito bom!

Ser pai é tentativa e erro, é se sentir frustrado, às vezes culpado, é ficar preocupado e perceber como isso é mutas vezes exagerado, porém é ter zelo por essas vidas que caminham em meus passos. Existe cansaço, falta de dormir (nem passava pela minha cabeça que eu ficaria madrugada acordado e ainda daria conta do trabalho no dia seguinte), é pensar no que se faz com seu dinheiro, com seu tempo, com seus sonhos e suspirar pelo filho que se tem.

Ser pai é agradecer à mãe. É fato que de tudo o que passamos como homens na paternidade, para a mulher a sobrecarga e exigências são maiores nessa sociedade que normalizou a negligência masculina enquanto pensa que ela apenas cumpre uma obrigação. Não podemos esquecer que no Brasil existem mais de 5 milhões de crianças que não possuem o nome do pai na certidão de nascimento, quando ainda existem aqueles que, ao pagar pensão, pensam que cumprem o dever da filiação, sem esquecer dos pais apenas de corpo presente enquanto suas esposas realizam tudo.

Mas eu escrevo para você, pai de verdade, nas suas limitações e dificuldades sabendo, contudo, que desistir não existe em seu vocabulário. E compartilho essa nossa história comum desse sentimento que não se consegue definir, do medo do futuro, do aguardo de cada fase da vida de seu filho, daquele sentimento mais puro que se pode ter quando você sabe que a sua companhia é tão esperada por ele, seu filho, sua filha.

O dia dos pais é só mais um dia dessa transpiração que é a nossa vida. É só mais um dia desse tremor nas entranhas, dessa poesia que se compõe a cada sol, a cada fim de noite, dos desafios, da vontade de ser mais que humano só para estar ali com ele e por ele. E quando em nossa vida não for mais a nossa vez, quando chegarem os amigos, quando chegarem os amores, as escolhas individuais, a independência, a maturidade, ali, sentados, estaremos por eles, a postos (isso aprendi com minha mãe): não é sacrifício, nem anulação, é apenas amor. Feliz Dia dos Pais!

Gustavo Montoia é geógrafo e doutor em Planejamento Urbano e Regional pela UNIVAP. É docente dos Colégios Univap e da EE Francisco Feliciano F. da Silva (Verdinho) e pesquisador-colaborador do Laboratório de Estudos das Cidades da Universidade do Vale do Paraíba. @semanariojornal

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