O Brasil tem ou não uma das maiores taxas de juros reais do mundo?

Rogério Nakata

Nesta última semana ouvimos muito a respeito sobre taxas de juros. Diante do cenário econômico atual brasileiro esta questão deu o que falar e a pergunta que fica é: o país possui ou não uma das maiores taxa de juros reais do mundo? Será que isso é verdade, o que exatamente isso significa e o que pode trazer de consequências para o nosso dia a dia e para o futuro?

Primeiramente precisamos entender o que significam estas taxas de juros reais que nada mais são que a diferença entre a taxa básica estabelecida pelo Banco Central, conhecida também como taxa Selic, e a inflação. Esta última sim, conhecemos muito bem e que representa a alta generalizada de preços que tanto prejudica nosso poder de compra e que pode ser ocasionada por fatores como variação cambial, alta demanda e pouca oferta sejam de produtos ou serviços, por exemplo. Se pegarmos a Selic que foi mantida em 13,75% ao ano e o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado de 12 meses que foi de 5,77% obtemos quase 8% de juros real representando, com isso, uma das taxas mais elevadas do mundo, o dobro do 2º. colocado o México, conforme demonstrado no gráfico abaixo:

Bem, diante desta situação isto é bom ou ruim para o país?

Na economia, meu caro leitor, podemos dizer que tudo depende e neste caso dependerá de que lado da mesa você está, ou seja, se você é investidor e aplica em títulos públicos, por exemplo, pode ser algo bastante vantajoso investir numa das aplicações mais seguras do país. Isso porque, além das taxas de juros remuneratórias estarem bastante atrativas, onde alguns títulos atrelados a inflação já se aproximam de juros reais próximos a 7% ao ano, há também, títulos prefixados pagando mais de 13,50% para o mesmo período. Com isso, acabam por sua vez, não somente atraindo novos investidores brasileiros para o Tesouro Direto (plataforma de compra e venda títulos públicos do Tesouro Nacional) mas também atrai o capital estrangeiro. Por outro lado, na economia real que é a aquele que vemos e sentimos no nosso dia a dia pois, grande parte da população não tem dinheiro para investir, quando estamos diante de uma taxa de juros básica elevada ela inibe o investimento na abertura de novos negócios, na ampliação do parque fabril, na busca de crédito pelas empresas e famílias mas também significa menor ou, até mesmo, redução na geração de empregos já que o retorno de um negócio próprio ou de uma aplicação é comparativamente menor do que um investimento, praticamente, livre de risco na dívida pública brasileira através da aquisição de títulos públicos, por exemplo. Além disso, o consumidor ao tomar crédito junto aos bancos e financeiras encontra juros também mais altos já que os bancos têm como referência a própria Selic, significando que, quanto mais alta a taxa básica maiores serão as taxas para empréstimos e financiamentos, tanto para pessoas físicas como para as empresas. Com isso há a preocupação legítima, por parte do governo, de recessão já que com o dinheiro mais caro (os juros dos empréstimos) menos a economia real gira levando mais tempo para voltar a crescer.

Para termos uma noção de que há espaço para uma redução em 2022 a relação PIB/dívida retrocedeu para aproximadamente 73,5% (menor percentual desde julho de 2017 que foi de 73,2%). Isso significa que o país possui uma dívida estável e economia sobre controle, com um endividamento integralmente em moeda nacional e não em moeda estrangeira sendo que a situação fiscal brasileira é melhor do que muitos emergentes e até mesmo quando comparados aos países desenvolvidos. Somado a isso, a inflação que estamos enfrentado neste momento está mais atrelado ao desequilíbrio logístico nas cadeias globais provocado pela pandemia e não por excesso de demanda já que as pessoas não estão correndo às compras. Um bom exemplo disso, está que 77,9% das famílias brasileiras estavam inadimplentes em 2022, segundo a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) realizado pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), um número recorde desde que a série histórica foi iniciada em 2010. Isto significa que as famílias literalmente não possuem mais dinheiro para gastar!

Por fim, o Banco Central (BACEN) não é independente e sim autônomo isso porque ele não poderia ser independente dos 3 poderes atualmente constituídos pelo país e por nossa Constituição. Ele necessita de autonomia operacional e deve servir como órgão de Estado e não para que seja manipulado tomando decisões meramente políticas. Em suma, o BACEN precisa de autonomia NÃO SOMENTE para que sua atuação se dê no controle da inflação e estabilização do Sistema Financeiro Nacional mas, também, para a garantia do pleno emprego ou na tentativa de aproximar deste objetivo e não é isso que está ocorrendo neste exato momento já que as taxas de juros reais, que ainda estão em patamares elevados, podem comprometer o crescimento do país sendo que, conforme acima, há países como a Rússia (-1,30%) que, inclusive, está em guerra desde ano passado com a Ucrânia, mas também como os demais emergentes como Índia (0,66%), China (-0,30%), África do Sul (1,07%) e, até mesmo, a Argentina (0,57%) que está em grave crise econômica e com inflação de 94,8% acumulada em 2022, possuem TODOS uma previsão de um juro real inferior ao do Brasil (8,52%) em 12 meses.

Se você quer saber mais sobre estes assuntos macroeconômicos mas, também os microeconômicos, que são aqueles que afetam seu planejamento financeiro pessoal procure um Planejador Financeiro com a certificação CFP®

Rogério Nakata é Planejador Financeiro CFP® da Economia Comportamental e palestrante sobre os temas Educação Financeira e Planejamento Financeiro de grandes organizações. E-mail: atendimento@economiacomportamental.com.br

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