Reclamar dos políticos e ter desconfiança de tudo o que se faz é comum entre os brasileiros. Nunca acreditamos que eles se importassem com as reais necessidades que enfrentamos. Isso tem a ver com o curso de nossa história, porque as classes dominantes em nosso país mudaram de nome, suas bandeiras mudaram de cor, mas seus discursos a favor do desenvolvimento do país sempre resultaram em manterem a si mesmos. O Brasil mudou para permanecer igual.
O que aumentou em nossos dias é a força do messianismo. Ter a crença em um político é a maior religião no Brasil dos últimos pleitos presidenciais. É a religião do personalismo: o discurso de um homem do povo, símbolo de cultos nas redes, desavenças familiares e radicalismos perpetrados em seu nome. Quem imaginaria que mataríamos em nome de um deus de carne e osso e que deseja ser presidente?
Sempre na sociedade houve quem alimentasse teorias da conspiração. A gente pensa que existe algo por trás, que uma frase dita, na verdade possui uma palavra ou uma vírgula que, no fundo, o recado era outro. O que aumentou hoje é o tamanho de nossas suspeitas. Procuram conexões impensáveis. Um exemplo é a terra plana: imaginar que todos os físicos do mundo conspiram para nos enganar! É cômico, para não dizer trágico.
Reclamávamos da política, mas os relacionamentos não eram rompidos. Pairava uma certa racionalidade nas ações do Congresso e do Executivo. E as discordâncias se traduziam em manifestações, colunas de jornais e descaramentos que sempre estavam ali, sem negar que coisas reais aconteciam. O Brasil, entre 1990 e início dos anos 2000 avançou no SUS, nas políticas educacionais, no mercado de trabalho apesar de tantos entraves e resultados até incompletos.
As teorias conspiratórias existiam, mas enfrentávamos filas de vacinação e educação sexual, reduzindo doenças, gravidez na adolescência e HIV. Havia uma compreensão de que cada coisa tinha o seu lugar, seja a religião, a ciência e as crenças conspiratórias (estas, predominante nas conversas de botecos).
Em nossos dias, muitos excessos tomaram conta do âmbito político. Somos bombardeados por notícias em formato de imagem, sem fontes confiáveis que reforçam nossas crenças, nossas infundáveis suspeitas e que o perigo está rondando muito próximo. Pessoas esclarecidas estão irracionalmente desconfiadas, reforçando fontes duvidosas sem ao menos pesquisar e a metapolítica é mais presente em nosso espectro político.
A metapolítica nos faz compreender que a discussão presente não é se você está realmente defendendo justiça, direitos humanos, ou repudiando falas absurdas de determinados atores políticos; tudo isso será ressignificado se o que entrou em discussão está dentro ou não da sua ideologia política. Nessa bagunça e relativização de conceitos, o terreno fica fértil para essa desconfiança irracional em que supostas conspirações ganham tom de verdade, para a desumanização do outro quando pensa diferente de mim ou até mesmo quando erra e pela constante busca de um salvador na política, transformando ideias e ideologias em uma religião tão dogmática que vale matar ou comemorar a morte do outro para prevalecer.
Como sair dessa esquizofrenia social? É um longo caminho a reconstrução de pontes para então realmente tornar a política um pouco mais palatável. Estamos dispostos a isso? Disposto a ouvir quem realmente pensa o oposto? A entender que o político que não elegi pode ter acertos? Temos coragem para avaliar aquele que elegemos e tecer críticas sem camiseta de futebol? Podemos admitir seus exageros e as incoerências em sua prática?
Os posicionamentos políticos estão embebidos de frustrações pessoais, carregados de experiências individuais, cheios de sentimento, como se cada posição fosse uma violência endereçada a algum indivíduo, e, como cães raivosos, estamos prontos para agredir, vencer na oratória, nunca dialogar, nunca ouvir. Ainda que as fachadas ideológicas pareçam pretas ou brancas, a sociedade é um gradiente cinza. Talvez seja necessário apenas ajustar as lentes de contato.
Gustavo Montoia é geógrafo e doutor em Planejamento Urbano e Regional pela UNIVAP. É docente dos Colégios Univap e da EE Francisco Feliciano F. da Silva (Verdinho) e pesquisador-colaborador do Laboratório de.jpeg
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