Juros + Inadimplência: quando o crédito mais caro encontra famílias no limite

Na última quarta-feira, dia 17, o Banco Central manteve novamente a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano, o maior patamar dos últimos anos, embora com o Copom já sinalizando possível pausa no ciclo de aperto monetário.
Paralelamente, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgou que a inadimplência das famílias brasileiras atingiu 30,2% em julho de 2025 — o maior nível em quase dois anos.

Esse dueto — juros altos + crescente atraso de pagamento — forma uma tempestade perfeita que afeta o bolso, o poder de compra e a saúde financeira das famílias. Com isso, precisamos entender essa correlação do porquê as famílias se endividam mesmo com juros nas alturas, além de oferecer dicas práticas de como sair desta tormenta.

A correlação entre Selic alta e inadimplência crescente

  • Juros elevados aumentam o custo de crédito: financiamentos, tarifas de cartões de crédito, empréstimos pessoais ficam mais caros. Quem contrai dívidas nessas condições passa a comprometer parcelas maiores que, além de não caber no bolso do tomador de crédito, pressionam também o orçamento familiar.
  • Inadimplência subindo: dados da Peic/CNC mostram que, em julho de 2025, 30,2% das famílias tinham contas em atraso. Em agosto, esse percentual subiu para 30,4%. Também cresceu a parcela das famílias que declaram não ter condições de quitar os débitos vencidos, de 12,7% para 12,8%.
  • Prazos mais curtos e crédito cauteloso: as instituições financeiras, diante do cenário de risco, tendem a conceder crédito com prazos menores, exigir garantias melhores ou perfil de crédito mais rigoroso. Isso eleva o custo efetivo para quem toma crédito lá na ponta.

Por que o crédito ainda cresce apesar dos juros altos?

Mesmo com juros altos, há uma procura crescente por crédito. Algumas razões:

  1. Maior poder de compra percebido: quando salários ou rendimentos reais crescem (ou quando ao menos não perdem para a inflação), as pessoas se sentem mais capazes de arcar com compromissos financeiros, mesmo que implicando custos maiores. A percepção de estabilidade acaba estimulando a tomada de crédito e a realização de mais prestações, já que há mais espaço dentro do salário.
  2. Necessidade/urgência: em muitos casos, a necessidade dita o uso do crédito para pagar despesas básicas, imprevistos financeiros, saúde, educação ou manutenção do padrão de vida, especialmente quando a inflação corrói a renda disponível.
  3. Oferta de crédito mesmo que mais cara — bancos, financeiras e fintechs continuam disponibilizando linhas de crédito, pois existe demanda, embora com critérios mais rigorosos.
  4. Confiança ou otimismo: parte das pessoas acredita que “vai dar conta” ou que os juros vão baixar, ou que sua renda vai crescer. Esse otimismo exacerbado pode incentivar o uso de crédito mesmo em condições adversas.

Dicas práticas para lidar com crédito e inadimplência em cenário de juros altos

AçãoObjetivoComo colocar em prática
Revisar dívidas atuaisReduzir peso dos juros altosVerificar juros de cartão, cheque especial, empréstimos; tentar renegociar ou consolidar dívidas, buscando taxas mais baixas.
Orçamento rígidoLiberar margem para pagamento de dívidasFazer acompanhamento mensal de receitas vs. despesas; eliminar ralos, enxugar gastos e priorizar o pagamento de dívidas com juros mais altos.
Evitar crédito rotativo /parcelamento sem jurosEvitar armadilhas com juros ocultos e abusivosUsar cartões com cautela, anotando todas as despesas realizadas com eles e, em caso de parcelamento, verificar se há juros ocultos ou abusivos.
Reserva de emergênciaEvitar recorrer sempre ao crédito como segunda fonte de rendaReservar um valor mensal (mesmo que seja pequeno inicialmente) para imprevistos, de modo que possa atender às emergências que sempre surgirão ao longo da vida.
Avaliar o custo real do créditoSaber exatamente quanto se vai pagar no total do empréstimo tomadoSolicitar o Custo Efetivo Total (CET) antes de aceitar empréstimos e sempre comparar ofertas.

Procurar um planejador financeiro com certificação CFP ® é diferencial

  • Um planejador financeiro CFP® (Certified Financial Planner) possui formação reconhecida e ética profissional, capaz de oferecer uma abordagem completa: analisar sua situação financeira, mapear dívidas, gastos e objetivos futuros.
  • Ele auxilia a montar um plano de ação personalizado, levando em conta juros altos, inadimplência, perfil de risco e objetivos de médio/longo prazo (aposentadoria, compra de imóvel, faculdade dos filhos, viagens etc.).
  • Nessas situações de instabilidade econômica — Selic alta, inflação, mercado de crédito mais caro — contar com orientação profissional minimiza os erros, evita decisões impulsivas e pode economizar muito dinheiro ao longo do tempo.
  • Somado a tudo isso, o planejador pode ajudar na construção de disciplina financeira: orçamentos, reservas de segurança, uso consciente de crédito, fazendo dele não um inimigo, mas uma ferramenta para  alavancar o aumento de seu patrimônio financeiro.

A manutenção da taxa básica de juros em 15% ao ano e a inadimplência no mais alto patamar em quase dois anos são sinais visíveis de que o consumidor brasileiro está sob pressão. O crédito mais caro, somado aos atrasos crescentes, sinaliza um alerta a curto prazo.

Mas, mesmo nesses cenários adversos, há saída. Com informação, disciplina, ações práticas e ajuda profissional, especialmente de um planejador CFP®, é possível retomar o controle financeiro, evitar que o crédito vire armadilha a fim de garantir que o presente não comprometa o futuro.

Rogério Nakata é Planejador Financeiro CFP® da Economia Comportamental e palestrante sobre os temas Educação Financeira e Planejamento Financeiro de grandes organizações públicas e privadas.

Email:atendimento@economiacomportamental.com.br

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