Frustração, raiva e agressividade são sentimentos desencadeados por uma expectativa/objetivo que se pretende alcançar e a decorrente frustração do insucesso. A expectativa não realizada, seja física (não conseguir emagrecer, fazer atividade física, aprender a dirigir), social (não ser aceito em determinado grupo), afetiva (fim de uma relação) ou até de autorrealização (não conseguir uma promoção no trabalho), tem a medida de um desejo que não se realizou.
A experiência de frustração de uma criança, quando vê as horas passarem e os pais não chegarem à escola para buscá-la, ou a decepção de não ganhar o presente desejado, são exemplos que complementam, assim como as experiências de contato com sentimentos de abandono, de raiva, desconfiança, insegurança, desapontamento e injustiça. Por outro lado, há o sonho frustrado de uma pessoa, dona de uma força inesgotável que, mesmo assim, não pôde concluir os estudos. Não há área do fazer humano na qual a frustração não assuma uma importância. Uma vez que ela é um sentimento que transita entre expectativas individuais e coletivas não realizadas, todos os dias, em maior ou menor grau, porque os desafios vêm para todos com a realidade e provê a noção de limites e limitações. Via de regra, a vida emocional costuma receber pouca atenção.
É hora, porém, de olhar para ela, pois já basta este panorama conturbado que o mundo apresenta, como um labirinto, um caos de sentimentos, de angústia e de desespero diante de situações incompreensíveis e, aparentemente absurdas, como, por exemplo, a violência nas escolas, as crianças que não podem ouvir não. Vivemos uma época difícil, em que a busca da compensação imediata é imperativa. Entretanto, por outra perspectiva, acreditar no poder dos sentimentos é admitir o que eles podem fazer conosco e o que podemos fazer com eles. Lembro da história de uma aluna que ficou conhecida após ter sido hostilizada por colegas da universidade em que estudava, por usar um vestido rosa-choque curto. A hostilização ganhou proporções que fugiram do controle da universidade, exigindo a presença da polícia militar para a proteção da aluna em sua saída do recinto. No ano seguinte, ela transformou, a seu favor, a infelicidade de ser hostilizada publicamente, tornando-se empresária. Não existe como aprender a viver sem sentir frustração, medo, raiva, angústia – são emoções naturais da vida humana e a base para a criação de uma boa estrutura mental/emocional. É necessário a capacidade de aprender a flexibilizar e de adaptação para administrar comportamentos impulsivos, destrutivos; pensamentos e emoções ou adiar gratificações, ao se deparar com situações adversas. Tudo isso alerta para o fato de que a vivência da frustração precisa de um aparelho psíquico/mental que possa pensar as experiências, pois quando há uma incapacidade em suportar, pensar, processar o que gerou a frustração, isso suscita sentimento de impotência ou de fracasso e se torna insuportável aguentar o sofrimento, afetando o equilíbrio e as relações interpessoais.
Todavia, pode-se usar o desapontamento, a frustração, a favor, enfrentando as dificuldades que se colocam, ao invés de achar algo ou alguém para se responsabilizar pela frustração. A vida, como a corrida, a escrita, é uma tarefa penosa, mas consegue-se melhorar o desempenho quando se enfrenta os desafios, e não achar que se tem “direito adquirido” a viver sem dificuldades, barreiras ou privações.
Como em um mergulho introspectivo, o autoconhecimento é a oportunidade de descobrir aquilo que sente, que dilacera e tortura, limites e limitações, como dar conta do essencial e achar que tem de dar conta de tudo, sentir força para os desafios essenciais da vida e achar que jamais pode fraquejar ou errar.
É importante entender o sentir, cuidar das emoções, pois, a falta de cuidados com elas, em situações limites, se manifesta por meio de comportamentos agressivos e disfuncionais. Por fim, um trabalho terapêutico facilitará o entendimento de que a emoção não vem para prejudicar, mas para comunicar que algo está acontecendo e para libertar os pensamentos. Não existe viver sem se frustrar.
Odete Alves da Silva Guerra dos Santos – Psicóloga clínica há mais de 30 anos, mestrado pela universidade de Taubaté, Formação em Psicanálise. Lecionou nas principais faculdades da região
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