Escolhas e decisões, entre a razão e a emoção

Odete Alves da Silva Guerra dos Santos – Psicóloga clínica há mais de 30 anos, mestrado pela universidade de Taubaté, Formação em Psicanálise. Lecionou nas principais faculdades da região.

Diariamente nos surpreendemos com situações que merecem a nossa reflexão, pois estão sempre na balança entre a razão e a emoção, por escolhas e decisões. Quantas vezes ouvimos dizer que é preciso “ser racional”, “manter a cabeça fria” ou “deixar os sentimentos de lado?” Seguir a razão ou a emoção, são questões que acompanham o ser humano e, muitas vezes, o paralisam. Fazer escolhas, seja em que aspecto da vida for, é imprescindível. Escolhemos de manhã à noite. É impossível seguir o dia a dia sem tomar decisões, mesmo que pequenas, como, por exemplo, levantar-se ou permanecer um pouco mais de tempo deitado, pentear ou ajeitar os cabelos, tomar café ou não pela manhã. Faz-se importante saber diferenciar uma palavra da outra.

Segundo o dicionário de língua portuguesa, a palavra escolha é o ato ou efeito de escolher; já preferência é a opção que se dá a alguma coisa que se encontra entre outras, como, por exemplo, escolher uma roupa, um perfume, um filme, um sapato ou tênis, uma música, entre outros. As escolhas, porém, nem sempre são fáceis e simples como optar por ir ao cinema ou ao teatro. Não decidimos fazer uma cirurgia, percorrer oitocentos quilômetros a pé, fazer um curso ou optar por um profissão, casar-se, ter filhos, separar ou aposentar, com a mesma tranquilidade com que compramos uma roupa. A decisão, por exemplo, da separação amorosa, por mais que se constate a necessidade de haver, ela, ainda assim, é vivida com a sensação de angústia. É comum o sentimento de insegurança, de incertezas quanto ao futuro, com a sensação de vazio, de sentimentos de raiva, tristeza, receio de magoar a outra pessoa, o que costuma ser dolorido.

Por outro lado, essa é a fase de pensar as perdas reais e simbólicas, combinar a guarda dos filhos, a mudança de casa, além de ser necessário desfazer planos futuros e sonhos que tinham em comum.  A separação amorosa, por vezes, é uma das experiências de vida adulta que mais mobiliza e traz sofrimento às crianças e aos próprios adultos, pois pode deixar marcas para sempre se não forem elaboradas. Decidir é, portanto, pautado após julgamento, juízo, sentença; relacionada à percepção da realidade, a situações cruciais à vida; onde as emoções, a experiência e a lógica precisam dialogar entre si e apresentar argumentos racionais que fará com que sinta mais segurança na decisão. Não existe, portanto, decisão desligada da emoção e da razão. Por outro lado, realizar ações sem avaliar as repercussões que elas terão na vida pode trazer sérias consequências e prejuízos, afinal escolhas e decisões impactam a vida de todos.

Nesta reflexão, pensei também na situação dos índios ianomamis e no verso do poema, 12.207, presente no livro Inventário de Cicatrizes, de Alex Polari: “fomos expulsos da vida e do continente”. Como é possível viver sem esperar nada da vida, desencantados, desalentados, descartados, vazios de amor, compaixão, alimentação, e expulsos das próprias terras? Não há mente que consiga pensar e enxergar o futuro. Diante deste cenário, é impossível ficar indiferente a tantas cenas de sofrimento, uma grande dor coletiva que desafia a natureza humana. Se não conseguimos dar a devida importância ao existir humano, o que nos tornamos? Insensíveis ao sofrimento do outro. Situações como essa impactam como gatilhos que provocam uma reação emocional, com sentimentos desagradáveis, afetando aspectos que podem ser muito sensíveis às pessoas, como baixa autoestima, sentimentos de angústia, ansiedade. Quando se vai tomar decisões no contexto social, em situações cruciais à vida, é inevitável que tais decisões avaliem cenários, pessoas, incluam avaliações de riscos, prejuízos à vida humana. Razão e emoção caminham juntas, uma vez que para se ter consciência é preciso ter sentimentos. O sentimento é a linguagem do coração. São as emoções que nos tornam humanos. A vida não é uma escolha, mas decidir pela sua permanência com humanidade é uma decisão consciente e coerente.

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