CONHECENDO A HISTÓRIA

Benedicto Sergio Lencioni

UM JACAREIENSE FUNDOU CAMPINA VERDE

Pela primeira vez tem-se notícia que um jacareiense é o fundador de uma cidade no Triângulo Mineiro. Sabe-se que de Taubaté partiram vários pioneiros que se aventuraram pelo sertão do interior do Brasil, criaram várias cidades como Ouro Preto. Taubaté foi a primeira vila do Vale do Paraíba, e devemos conhece-la como a capital histórica desta região.

Destas terras saiu um morador que se aventurava para o conhecido Triângulo Mineiro, parte do sul de Minas, fronteira com o nosso Estado, vendendo alimárias. Vender cavalos, como hoje dizemos. Era uma atividade comercial suprindo as necessidades de transporte individual, principalmente. Vencer as grandes distâncias deste país não era desafio fácil, somente possível por terra, com cavalos e, pelos rios, com frágeis embarcações.

Nossa história é em torno de João Batista de Siqueira, morador desta vila que, ainda moço, numa de suas viagens a negócio em Mogi Guassu, enamorou-se por Bárbara Bueno da Silva, vinte anos mais moça que ele e contratou casamento, escondendo sua situação civil. Começa aqui um romance envolvido na tragédia de um assassinato. Podemos imaginar toda a trama desenvolvida envolvendo dois fervorosos enamorados.

João Batista volta à Jacareí, mata a sua esposa e casa-se com Bárbara. O crime foi descoberto e o assassino fugiu com a jovem esposa, 20 anos mais moça que ele. Acabou fixando-se no Pontal do Triângulo Mineiro, junto aos índios caiapós, onde hoje é a cidade de Campina Verde. Faleceu em dezembro de 1830. Como não tinham filhos doaram à Congregação da Missão logo após a doação de imensa gleba de terras entre Uberaba e Campina Verde. Os padres missionários fundaram no local um Colégio.

Benedito Santana, morador em Campina Verde, que em 1981 enviou-me uma carta contando essa história, informou que João Batista foi inventariado no Cartório do 1º Ofício da cidade de Prata/MG, onde existe também o seu testamento. Nele, Siqueira diz que é nascido e batizado em Jacareí e que em 1830 estava mais ou menos com 60 anos e que foi casado em primeiras núpcias com Ana Maria e que era filho de outro João Batista de Siqueira e Maria Francisca. Na Cúria Metropolitana de Taubaté, foi encontrado apenas o registro de batismo de João Batista de Siqueira e Catarina de Godoi. O missivista observou que no registro de óbito de Ana Maria, não consta a causa da morte, o que dificulta a constatação de seu assassinato.

Sua segunda mulher Bárbara Bueno da Silva, faleceu em 1852 e está sepultada na Igreja Matriz de Campina Verde e inventariada no Cartório do 2º Ofício de Prata/MG, onde está também seu testamento.

Por volta de 1827, João Batista e sua esposa, conforme já noticiado, doaram suas terras para a Congregação da Missão, que instalou ali um dos seus colégios. Em 1842, em razão da transferência de alunos do Caraça, fechado entre os anos de 1842 e 1856, o colégio recebeu um grande impulso. Ao redor da capela estabeleceram-se os primeiros pioneiros, onde hoje está a igreja matriz de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, sagrada em 1941. Em 1911, Campo Belo torna-se Distrito de Prata e, em 1923, passou a chamar-se Campina Verde. O município foi criado em 1938.

Como me encontrava prefeito nessa época, não me recordo se fiz algum contato com meu chará Benedito Santana. Guardei, porém, sua carta e encontrei na internet informações sobre a cidade Capina Verde. Fica, portanto, este registro, como sugestão para uma pesquisa futura de algum curioso ou amante da nossa História.

Fotos: Colégio Santa Terezinha – Catedral

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