CONHECENDO A HISTÓRIA- Benedicto Sérgio Lencioni

A PADROEIRA DE JACAREÍ

A matéria abaixo é do meu livro UM LUGAR NO TEMPO, que focaliza o centro histórico de Jacareí. Viver numa cidade é conhecer a cidade, sua história, seus fatos mais marcantes, as famílias mais antigas, as tradicionais, as pessoas que fizeram a história. Quando você conhece a história da cidade e é um observador de suas ruas, becos, escolas, hospitais, cemitérios, das peculiaridades de seu bairro, você encontrará prazer e alegria. Desconhecer, ignorar, tira-lhe o prazer. Aproveitando o Dia da Padroeira vamos conhecer um pouco da religião e do culto à Nossa Senhora da Conceição.

A religiosidade dos portugueses pontificava-se no culto à Imaculada Conceição. A imagem da Santa veio numa das naus de Pedro Álvares Cabral.

Em 1532, Martim Afonso de Souza ao fundar a povoação de Itanhaém lançou os alicerces da ermida da Imaculada Conceição que, segundo os historiadores, é o primeiro templo erguido na América do Sul com esta invocação. (Benedito Calixto – Memória Histórica sobre a igreja e convento da Imaculada Conceição de Itanhaém) Benedito Calixto observou que durante o apostolado de José de Anchieta, quatro povoados, em terras por ele catequizadas, tinham por orago Nossa Senhora da Conceição: Bahia, Itanhaém, Espírito Santo e Piratininga.

Uma das naus que trouxe Tomé de Souza em 1549 para a Bahia tinha o nome de Nossa Senhora da Conceição. É certo também que a imagem da Santa trazida pela nau capitânia foi instalada numa capela que deu origem à Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia.

Os franciscanos foram ardentes propagandistas da devoção a Nossa Senhora da Conceição no Brasil, os mais intemeratos defensores da crença na Imaculada Conceição de Maria Santíssima, definida como dogma de fé pelo Papa Pio IX, a 8 de dezembro de 1854.D. João IV Portugal e seus domínios sob a proteção da Virgem Imaculada,

Na liturgia da Igreja Católica, o Advento é dedicado ao culto à Imaculada Conceição, que ocorre no período de 17 a 24 de dezembro e, mais precisamente no domingo que precede o natal. Num prazo mais dilatado até 1º de janeiro, Dia Mundial da Paz, numa celebração conjunta de Maria com Aquele que é o “Príncipe da Luz”, segundo o evangelista Lucas.

A pessoa de Maria é cercada na liturgia da Igreja Católica de uma veneração profunda, escolhida pelo Verbo Divino para conceber o Salvador do mundo.

Os portugueses, católicos por origem e formação, introduziram a sua religião e a sua fé pelas Missões Jesuíticas na colônia sul-americana e tudo o que viam e tocavam recebia como batismo uma denominação religiosa: rios, montes e morros, baías, territórios, vilas, pessoas. Quando da nossa fundação a vila recebeu o nome de Vila de Nossa Senhora da Conceição da Paraíba – em 24 de novembro de 1653.

O nome escolhido está dentro do espírito religioso dos portugueses, sem que se possa fazer qualquer outro comentário. Talvez a proximidade com o 8 de dezembro que, de acordo com o calendário romano, é dedicado a Mãe de Jesus.

O Papa Paulo VI, em 2 de fevereiro de 1974 exortou o “desenvolvimento do culto à Bem-Aventurada Virgem Maria”.

(O Culto da Virgem Maria – Edições Loyola – Paulo VI)

 É preciso conhecermos mais sobre a devoção à Mãe de Cristo, certamente a personagem bíblica mais relevante e cercada de profundo mistério. Para tanto vou valer-me da historiadora Nilza Botelho Mengale.

Muitos séculos antes de a Igreja Católica proclamar o dogma da Imaculada Conceição de Maria, o povo já reconhecia a pureza da Mãe de Deus, concebida sem a mancha do pecado original e celebrava sua festa a 8 de dezembro.

Segundo a tradição Nossa Senhora apareceu a várias pessoas confirmando a sua Conceição Imaculada e, após a proclamação do dogma pelo Santo Padre Pio IX, Maria Santíssima deu-se a conhecer em Lourdes a Bernadette Soubirous dizendo – ‘Eu sou a Imaculada Conceição’.

Em Portugal, Nossa Senhora da Conceição possuía grande número de devotos quando seu culto foi oficializado por D. João IV, primeiro rei da dinastia de Bragança, que fora aclamado a 1º de dezembro de 1640, data em que se iniciava a oitava da festa da Imaculada Conceição. Seis anos depois, com a aprovação das Cortes de Lisboa, ele dedicou à Virgem Imaculada o reino português. Em todo o território lusitano, assim como em suas colônias, a festa da Conceição de Maria tornou-se oficial e obrigatória, tendo sido cunhadas, em seu nome, moedas de ouro de 12 mil réis e outras de prata no valor de 450 réis. O solar da Santa Padroeira é Vila Viçosa, que deu seu nome a uma ordem honorífica por D. João VI em 1818, com a denominação de Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

No Brasil a imagem da Virgem da Conceição chegou em uma das naus de Pedro Alves Cabral. Ela representa Maria Santíssima de pé sobre o globo terrestre, tendo as mãos unidas em oração e os olhos voltados para o céu, esmagando com os pés uma cobra, símbolo do pecado original. Os frades franciscanos foram os propagadores desta devoção que se espalhou de norte a sul, pois existem cerca de 375 paróquias a ela dedicadas. Em todas as localidades por onde passaram os filhos de S. Francisco foram construídos templos sob o orago de Nossa Senhora da Conceição, sendo ela a padroeira de vários Estados brasileiro”.

Nilza Botelho Megale – Igreja Matriz da Imaculada Conceição – 112 Invocações da Virgem Maria no Brasil – história, folclore e iconografia – Editora Vozes – 1979

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