CONHECENDO A HISTÓRIA

Benedicto Sérgio Lencioni

UMA RUA CHAMADA AVENIDA – parte 1

(Primeira parte sobre os moradores do lado esquerdo da rua, casas ímpares)

Moro na Avenida Antunes da Costa. Mas, é uma avenida? Esta pergunta sempre é feita porque ela não tem as dimensões de uma avenida.

A avenida está situada num morro que leva o nome de Ramalho, porque foi a sede de uma fazenda cujo proprietário era um dos descendentes do histórico personagem João Ramalho. Um dos seus muitos filhos assinou a ata da criação da Vila de Nossa Senhora da Conceição do Paraíba, nossa cidade.

         A abertura da “avenida” foi feita pelo prefeito Francisco Antunes da Costa, para o construir o reservatório que abastece a cidade com água encanada. Sobre a pessoa do professor Antunes da Costa a historiadora Dra. Ana Luiza do Patrocínio escreveu um estudo minucioso. A abertura da via pública, implicou em desapropriação autorizada pela lei número 45 de 16 de março de 1909.

Realizei uma exposição no centenário da abertura da avenida, de 21 a 29 de março de 2009, com fotos e textos, relembrando fatos e famílias que moravam na rua. Procurei resgatar um pouco da história das mais antigas famílias que ainda permaneciam morando há longo tempo e cujos filhos e netos não conheciam o passado. A mostra foi numa casa vaga de minha cunhada Marília Calvo, na mesma rua, do lado esquerdo.

Neste espaço da cidade há muita história e curiosas particularidades.

Vamos começar descendo a rua.

Na primeira casa morava a família do senhor Antero Pantoja, telegrafista do Correio. Era um homem pouco expansivo, talvez devido sua profissão, casado com Dona Ofélia. Sua filha Virgínia casou-se com meu falecido irmão Hélio, professor de História do Brasil e rádio amador.

Na casa abaixo morou Marcílio, um ex-combatente da II Grande Guerra, casado com Marta, irmã de Paulo, meu sogro. Na casa abaixo morava o senhor Eduardo e sua família, um conhecido e gentil

garçom. Na semana santa fazia paçoca, socando amendoim no pilão. Não era para vender, presenteava os vizinhos. Era uma tradição.

Depois vinha a casa da família Teixeira. O senhor Manoel, fazendeiro, homem de poucas falas, sua esposa, uma irmã e filhos. Um deles, o senhor Otaviano, era um homem mais expansivo e deixou uma grande prole. Seus descendentes ainda moram juntos, no mesmo espaço.

Esses foram e são meus vizinhos de cima pois moro na metade do morro. A propriedade onde moro foi comprada pelo meu sogro da família Teixeira; isto é, o terreno onde começou a construir uma casa, mas faleceu moço. Provavelmente consequência da participação como voluntário na revolução de 1932. A viúva Inez passou a morar na casa inacabada com suas duas filhas meninas Marília e Moema, minha mulher. Ao me casar morei 30 anos com minha sogra e onde nasceram meus filhos: Giseli, João e Gislene. Fui duas vezes vereador e presidente da Câmara Municipal e prefeito por dois mandatos.

Na casa abaixo morou, por uns tempos, o Moura do Horto Municipal e sua esposa Irce. As duas casas eram separadas por uma mambembe cerca de taquara, por onde passava a Irce, uma grande amiga da família de minha mulher. Depois deles morou a família do famoso jogador de futebol – o Gradim, sua mulher Maria, seus filhos e a mãe dela.

Na mesma sequência descendo vinha a família do senhor Tonico, funcionário da Estrada de Ferro, mulher e filhas:  Araci (costureira) e Maura solteiras; os filhos Otacílio, conhecido por Tito, também ferroviário, e Jura, outro expedicionário da II Grande Guerra Mundial. Portanto foram dois ex-combatentes que saíram desta rua, que continua sendo chamada avenida.

Depois, a casa de meus pais João Domingos e Maria José e de meus irmãos Célio, Hélio, Nícia, Frede e Bosco; a Flora morava do outro lado da avenida. Ali eu também morei. Éramos sete irmãos, todos professores, que deram aulas para algumas centenas de alunos de Jacareí e São José dos Campos. O irmão Frederico, biólogo, com vários livros digitais científicos sobre borboletas, pássaros, peixes, insetos etc. conhece todos os biomas do Brasil num trabalho para a USP.

Logo abaixo, separado parcialmente por um muro de taipa de pilão, morava o vizinho Chiquito Carteiro e sua família. Ainda hoje moram seus descendentes. Segundo se conhecia, levava a cavalo, correspondência para

Santa Branca. Gostava de música e tocava bumbo na Banda União Operária. Religioso, pessoa humilde, de sua casa saia a Bandeira do Divino formada por seus amigos. Na sala de sua casa havia festas, bailes e ouvia-se o bate palmas e bate pés da catira e outras danças típicas.  Chiquito, era um homem do folclore vivo e verdadeiro.

Em seguida morava um senhor muito simples, que fazia linguiça artesanal. Não consegui mais informações.

Depois dele morava, quase no final da rua, o senhor Cornélio e sua família, também funcionário da Estrada de Ferro, um senhor de religião espírita e voltado à caridade. Seus descendentes não moram mais nesta rua chamada avenida.

Na no meio da foto o senhor Chiquito e sua esposa Francisca e um grupo de amigos, pessoas simples como ele

Francisca e a filha Maura – Jura o expedicionário – Tito sua esposa Sumina e os três filhos Benedito, Romilda e Clayton.

Família Teixeira – Sr. Otaviano, esposa e alguns filhos.  Abaixo , o senhor Manoel montado

Benedicto Sérgio Lencioni é professor, historiador, advogado, pintor, escritor e político de Jacareí. Escreveu diversos livros sobre a história da cidade. Foi vereador por duas legislaturas e posteriormente também foi prefeito por dois mandados.

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