CONHECENDO A HISTÓRIA

AFORMOSEAR A CIDADE – Benedicto Sérgio Lencioni

Rua Leitão – meio fio de concreto e calçada com placas de granito.

Foi na terceira quadra do ano 1887 que a cidade começou a se “aformosear”. Este é o termo usado pelo vereador Lopes Chaves na sessão da Câmara de 15 de novembro de 1887, quando começaram a marcar os limites laterais das ruas. Não é fácil de se imaginar quando as ruas iam de parede a parede nas laterais. Começaram a ser colocadas guias de granito. Sinto que o verbo aformosear significava, não especificamente, embelezar, mas sim em dar forma à cidade, definir o traçado das ruas.

O proprietário pagava e era quase como um privilégio ter em frente da casa uma guia. Nesse tempo havia a pessoa do arruador responsável para determinar a localização exata da parede da frente e dos fundos, principalmente. O pedido feito à Câmara passava pelo parecer da Comissão de Obras Públicas, uma das três comissões, cada qual com seu relator. Os membros da Comissão davam parecer, autorizando ou não a sua execução. Não havia engenheiro ou topógrafo, o arruador era um prático e ele realizava a demarcação.

Aformosear era dar à rua sua definição e a guia, que era uma estrutura de granito no formato de um retângulo, mas não havia uniformidade de bitola (grossura). O vereador Lopes Chaves que havia visitado São Paulo e Taubaté sugeriu que houvesse uma definição quanto a espessura das guias, pois assim o visual e a segurança estariam contribuindo pelo aformoseamento.

Na sessão ordinária da Câmara de Jacareí, do dia 15 de novembro de 1887, pediu a palavra o vereador Lopes Chaves e, por ele foi dito que, visto tratar-se de formosear muito desta cidade, cumpria-lhe oferecer no caso vertente, mais uma indicação. Esta, no conhecimento de todos, que o calçamento das frentes dos proprietários desta cidade tem sido feitas à vontade de cada um, motivando por isso a uns fazerem o calçamento mais altos e outros mais largos, de modo que em vez de aformosearem as ruas desta cidade, ao contrário, vão se tornando elas defeituosas. Tem ainda a notar que tendo ele testemunhado o modo pelo qual se procedem as Câmaras em outros lugares, bem como as de São Paulo e Taubaté, indicava que, doravante, ficasse proibido de qualquer proprietário fazer o calçamento da frente de seus prédios, sem que a bitola da linha de pedra divisória fosse dado pelo arruador e sob a inspeção da Comissão de Obras Públicas, Câmara. Foi aprovado.

 Em 1º de dezembro, também de 1887, o vereador Lopes Chaves disse em sessão que, “havendo alguns proprietários que se acham prontos a calçarem a frente de seus prédios mas que dependem de autorização da Câmara, que a Comissão de Obras Públicas marque a bitola e alinhamento das respectivas linhas ou cordão de pedra divisória, por isso indicava que doravante ficasse a respectiva Comissão autorizada a dar o referido alinhamento a qualquer proprietário que assim o exigisse e assim como mandar fazer na frente dos prédios desta cidade quando julgar assim conveniente.” Assim como ficasse o Procurador autorizado a fazer o pagamento por conta do cofre municipal, mediante inspeção e ordem da Comissão de Obras Públicas.

Nascia assim uma orientação técnica, que começava a uniformizar, o que chamaríamos hoje, de normas urbanas.

Meio fio de granito e calçada de ladrilhos

Benedicto Sérgio Lencioni é professor, historiador, advogado, pintor, escritor e político de Jacareí. Escreveu diversos livros sobre a história da cidade. Foi vereador por duas legislaturas e posteriormente também foi prefeito por dois mandados.

Benedicto Sérgio Lencioni é professor, historiador, advogado, pintor, escritor e político de Jacareí. Escreveu diversos livros sobre a história da cidade. Foi vereador por duas legislaturas e posteriormente também foi prefeito por dois mandados.

Jacareí. Escreveu diversos livros sobre a história da cidade. Foi vereador por duas legislaturas e posteriormente também foi prefeito por dois mandados.

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