Como a Psicologia Econômica nos auxilia a entender nossos comportamentos financeiros

A Psicologia Econômica é um campo fascinante que estuda como fatores psicológicos influenciam as decisões financeiras das pessoas e, por consequência, o comportamento dos mercados. Esse tema ganha uma abordagem particularmente interessante no livro “A Psicologia do Dinheiro” (2020), de Morgan Housel, que explora os aspectos emocionais e psicológicos por trás das nossas decisões financeiras, demonstrando que o sucesso com dinheiro não está necessariamente relacionado à inteligência, mas sim ao comportamento que temos ao lidarmos com ele diante de tanto estímulos que nos levam mais a gastar recursos do que poupá-los ou investi-los. É notório vermos muitas vezes pessoas inteligentes e muito bem sucedidas em suas carreiras, mas que, muitas vezes, são inaptas para cuidarem de suas próprias finanças pessoais. O que o livro, que se tornou um best seller do autor, demonstra é exatamente isso: como fatores que vão além da educação podem, dependendo de suas experiências passadas e do ambiente em que vivemos, podem nos influenciar em nossos comportamentos e, por sua vez, na tomada de nossas decisões financeiras.

O Conceito de Psicologia Econômica no Livro de Housel

Morgan Housel desafia a ideia de que acumular riqueza ou tomar boas decisões financeiras depende exclusivamente de conhecimento técnico ou de domínio dos mercados. Ele afirma que o comportamento com o dinheiro é mais importante do que habilidades matemáticas, e que as emoções, percepções pessoais e experiências de vida são os verdadeiros motores das decisões financeiras do ser humano.

A premissa central do livro é que o que as pessoas pensam sobre o dinheiro é mais importante do que o que elas sabem sobre dinheiro. Isso está profundamente alinhado com os princípios da psicologia econômica, que examinam como crenças, atitudes e emoções impactam a maneira como tomamos decisões financeiras.
Um bom exemplo disso é a relação sorte e risco. Nem sempre todo o sucesso é proveniente de um trabalho árduo e todo o fracasso seja sinônimo de preguiça, pois, existem outros fatores que vão além de nosso controle, como nascer numa família próspera e com  um núcleo estruturado poder ser sorte, diferentemente daquelas que nascem num contexto adverso ao apresentado oriundo de uma geração de pessoas endividadas ou com pouca ou nenhuma formação escolar, mas que trabalham 14 horas por dia e mesmo assim possuem resultados bem diferentes, demonstrando que apenas trabalho duro não é a resposta absoluta para o sucesso financeiro ou para reduzir a desigualdade entre classes.

Dentre as principais lições de Housel em seu livro sobre a psicologia econômica, muitas das quais o autor enfatiza como o comportamento e a mentalidade superam o conhecimento técnico, destacam-se estas:

  1. O poder da frugalidade e paciência: Housel menciona que muitas pessoas se iludem com a busca por grandes retornos rápidos. No entanto, o verdadeiro sucesso financeiro está na frugalidade e na paciência ao longo do tempo, características que demandam disciplina psicológica. O exemplo clássico que ele oferece é o de Warren Buffett, cujo sucesso não se deve a habilidades especulativas extraordinárias, mas à paciência a longo prazo, já que investir em bons negócios faz parte do mega investidor desde a juventude, quando o seu primeiro investimento foi aos 11 anos, comprando ações da Cities Services, atual Citgo que é uma refinaria, distribuidora e revendedora de petróleo e produtos derivados.
  2. A importância da sorte e do risco: A psicologia econômica reconhece que o sucesso financeiro não é inteiramente produto do esforço individual. Housel fala sobre como fatores imprevisíveis, como sorte e riscos não controláveis, desempenham papéis cruciais no destino financeiro de qualquer pessoa. Reconhecer isso é um exercício psicológico importante para evitar a autossabotagem através de expectativas irreais.
  3. O efeito da comparação social: um dos tópicos mais relevantes em “A Psicologia do Dinheiro” é o impacto das comparações sociais. O desejo de seguir o estilo de vida de amigos, familiares ou influências externas muitas vezes nos leva a tomar decisões financeiras ruins. Housel argumenta que esse desejo de se igualar aos outros tem suas raízes na psicologia evolutiva e nas pressões sociais, o que muitas vezes resulta em gastos desnecessários ou endividamento. Tudo isso acaba sendo turbinado pelas redes sociais, mas também pelos influencers digitais que são pagos justamente para isso, para criarem a ansiedade em adquirir produtos, serviços e, às vezes, soluções mirabolantes para problemas difíceis, fazendo-os parecer simples e desperdiçando, com isso,  tempo e dinheiro, levando-o a comprar coisas que não precisa com o dinheiro que não tem!
  4. O paradoxo da liberdade financeira: Housel argumenta que, para muitos, o verdadeiro valor do dinheiro está na liberdade que ele proporciona. No entanto, essa liberdade psicológica nem sempre é alcançada, porque muitas pessoas acabam presas a ciclos de consumo e desejos incessantes. O autor explica que, ao focar no que o dinheiro pode nos proporcionar em termos de liberdade, e não em ostentar, conseguimos alcançar uma relação mais saudável com as nossas finanças.

Por fim, o legado de Morgan Housel oferece um novo olhar desafiador sobre como pensamos e lidamos com o dinheiro e quebra paradigmas importantes sobre a ideia de que sucesso financeiro depende exclusivamente de habilidades técnicas ou de informações privilegiadas. Ele mostra que as emoções e comportamentos são fatores críticos que moldam o destino financeiro das pessoas, e que entender e gerenciar essas influências é mais importante do que tentar prever o próximo grande movimento do mercado. É uma obra que conecta os princípios da psicologia econômica com histórias reais e lições práticas, ajudando as pessoas a entenderem melhor seu relacionamento com o dinheiro e, mais importante, como suas mentes desempenham um papel crucial nesse processo.

Por essa razão,  se você possui um relacionamento não tão amigável com o seu dinheiro ou até mesmo autodestrutivo, deve procurar auxílio de um profissional certificado com estas três letrinhas após seu nome, CFP®, pois sem dúvida nenhuma, ele será capaz de entender não somente a sua situação financeira atual, mas os comportamentos financeiros que lhe trouxeram até aqui, mas que não lhe levarão até onde você quer um dia estar.

Rogério Nakata é Planejador Financeiro CFP® da Economia Comportamental e palestrante sobre os temas Educação Financeira e Planejamento Financeiro de grandes organizações.  E-mail: atendimento@economiacomportamental.com.br

MAIs LIDAS