O brasileiro deveria adotar um realismo político: nossa história não permite ilusões, nem heróis, muito, muito menos messianismo. Esse último vivemos com Bolsonaro e não deixa de existir com o presidente Lula, que, aliás, governa com o Centrão justificado pelos militantes tanto quanto os bolsonaristas faziam.
Não é somente isso: o cenário de seus mandatos anteriores não condiz com o atual, mas, para isso, deixem os economistas e o arcabouço fiscal como pontuadores dessa realidade. São as políticas públicas o legado futuro na paisagem e na memória das pessoas por elas impactadas, pois, podemos encontrar em muitas cidades deste país seus resultados.
Para evitar dúvidas: não é difícil encontrar em pesquisas e reportagens os resultados negativos de uma política que negligenciou o cumprimento dos programas, como o Minha Casa, Minha Vida, realizada em locais afastados e deixados à regalia da violência local, ou das habitações que nunca foram construídas e dos danos psicológicos e financeiros que famílias sofreram.
A retomada do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento é outro ponto crítico: liberação de verbas que nunca cumpriram seu destino, obras inacabadas deixando uma paisagem de entulho, o fracasso da universalização do saneamento básico em locais que a verba chegou e a obra foi tão mal-feita que apenas maquiou, muito mal, a realidade. Brasil afora, existem muitos exemplos que apenas contribuíram para a manutenção perversa da política local, conhecida como coronelismo e que ainda resiste face a qualquer coisa que chamamos de modernização.
Dessa vez, com ênfase, o presidente não pode esquecer o perfil populacional que encara: um país com maioria população adulta que será impactada pelas ações das políticas públicas e pela imagem de um governo. Essa população conservadora, o que faz parte de uma democracia, parte dela é muito seduzida pelo discurso da extrema-direita. O atual governo deixará um retrato que o comprometerá seriamente em um país que a direita tradicional ainda não parece ser uma possibilidade.
Dessa maneira, o resultado, as entregas, o fortalecimento das instituições, o aumento da transparência são essenciais em um governo sujo slogan é reconstrução. As pessoas precisam ver resultados coerentes, algo difícil de ocorrer no Brasil, como, por exemplo, as obras públicas cumpridas em prazos adequados e os valores não indicarem abusos. Situação presentes em ações municipais, estaduais e federais.
E, nessa corrida, o governo estadual deu a largada ao rasgar as rodovias em São Paulo, cujos resultados logo aparecerão. E como estrada resulta em voto, as eleições municipais apresentarão sinais importantes. O que se espera é que o brasileiro ganhe nisso, sem aditivos, sem postergação e muito menos, elefantes brancos em nossa paisagem. Nada disso será esquecido.
Gustavo Montoia é geógrafo e doutor em Planejamento Urbano e Regional pela UNIVAP. É docente dos Colégios Univap e da EE Francisco Feliciano F. da Silva (Verdinho) e pesquisador-colaborador do Laboratório de Estudos das Cidades da Universidade do Vale do Paraíba.
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