O assunto merece uma observação mais próxima da realidade. Sem paixões ideológicas que, normalmente, desvirtuam a análise. Sobre o assunto existem críticas de fundo político, ideológico e por ignorar por completo o assunto na sua raiz. Cabe-me, como estudioso da História, mostrar a verdade.
O prédio da Igreja do Rosário não é o original. O atual foi resultado de uma reforma realizada no começo do Século XX, depois de 1906. A foto que reproduzo é a que consta do “Anuário” de 1906, com a seguinte legenda: Igreja do Rosário – Brevemente será demolida para dar lugar a outra de estilo moderno. Por isso mesmo não é um templo tombado. A reforma, que não foi um restauro, preservou algumas paredes de taipa de pilão e usou tijolos em outras. O antigo templo, certamente, contou com o braço escravo. A reforma não. O valor arquitetônico da Igreja não remonta às suas origens.
Deixo de lado observações sobre a parte religiosa e as questões sociais que envolvem a denominação de Igreja de Nossa Senhora do Rosário e dos Pretos. Tema que tratarei no próximo livro da série Um Lugar no Tempo 3.
Em 1995, a indústria Hoom Haas patrocinou o levantamento do prédio da Igreja do Rosário, apresentando os pontos que mereciam receber uma atenção das autoridades religiosas. O prefeito era o Dr. Thelmo; acredito que partiu dele (Fundação Cultural) a participação da indústria que, ao longo do tempo, tem prestado sua colaboração. Provavelmente a senhora Sônia Bonano tenha informações a respeito. Em 1998 recebi, como prefeito, um convite do padre José Vieira Pinto para a solenidade de abertura do templo reformado, dia 7 de agosto, às 19 horas. Uso o termo “reforma”, pois não se tratou de um restauro, mas de serviços para corrigir alguns pontos revelados pelo levantamento técnico, como o teto, por exemplo. Curiosamente, o laudo técnico apontou “a falta de proteção das fachadas laterais pela inexistência de beirais ao longo das paredes”. Essa falha, de algo tão desprezível, “aparentemente”, pode ter sido a causa da queda de parte da parede sobre porta e janela inferior.
Pensava-se, então, uma utilização mais intensa, religiosa e leiga do prédio, o que não aconteceu. Houve um desinteresse total. Raríssimas vezes o prédio foi utilizado pela Igreja e pela sociedade. As mudanças de hábito que seguem o modismo da época deixaram de acontecer, como os casamentos mais requintados.
Atualmente, não sabendo de que lado partiu a iniciativa, o Prefeito trocou com a Cúria, com o antigo prédio construído pelo prefeito A. Nunes para sediar o TG, que funcionava num barracão de madeira, no “esmaga sapo”. Ali foi biblioteca pública e sede da Promoção Social, pois havia reclamação dos moradores do barulho que causavam os atiradores do TG.
O laudo técnico de 1995 já mencionava o interesse municipal na instalação de um Museu de Arte Sacra na Igreja do Rosário, uma vez que Jacareí entre outros objetos religiosos históricos é ainda detentora do maior acervo de “paulistinhas”, depois do Museu paulista de Arte Sacra, acervo esse adquirido pela então presidente da Fundação Cultural, a escritora Ludmila, do Dr. Eduardo Etzel.
Esses são os fatos reais sobre a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Deixo de fazer outros comentários no momento. O prefeito não deseja e nunca desejou a destruição do prédio. Muito pelo contrário. Ele apenas segue uma linha de pensamento no sentido de criar um Museu de Arte Sacra em Jacareí, ele que não é católico e personaliza uma atitude republicana, de que o Estado é laico.
O episódio da queda de parte da parede foi a ação do tempo que age sorrateiramente, em silêncio, escondido nas cavernas construídas pelos cupins que enfraquecem a madeira de batentes que suportam paredes, que se encharcam nos temporais, aumentando seu peso. Infelizmente, o prefeito não é detentor, como nenhum de nós, dos poderes mágicos da previsão e nem dispõe de recursos monetários que podem ser alocados segundo sua vontade. Há leis e regulamentos e a Justiça é cega. Totalmente cega e, às vezes, estrábica.
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