
Os vereadores de Jacareí votaram pelo aumento de seu próprio salário nesta quarta-feira, dia 11 de dezembro de 2025. Do salário de 10 mil reais, o aumento vai para 17 mil. Entretanto, o reajuste só entrará em vigor na próxima legislatura.
Fico aqui imaginando o vereador que é a favor de um reajuste desse tamanho e ainda se diz liberal. O Estado sempre é bom para ele! Contudo, quantos projetos de lei cada vereador propôs esse ano? Quantos foram sancionados? Ou esse ‘mérito’ decorre apenas de propor menções honrosas? Será que o munícipe conhece esse vereador? Ele anda pelos bairros? Pelas ruas? Ou sua atuação se restringe apenas ao corporativismo e a discursos inflamados de pânico moral?
Esses questionamentos são provocativos; entretanto, colocam em xeque a prestação de contas de suas ações em 2025 para o povo que representa. Aliás, o vereador deve compreender que ele representa a todos: não é vereador de um bairro ou distrito, de um grupo religioso ou cultural, muito menos de apenas quem o elegeu.
Outra impressão que tenho é que, apesar de o aumento criar polêmica dentro do município, ela se dissipa muito rápido: a) nossa memória política é curta, então corremos o risco de votar nos mesmos; b) nos esquecemos que alguns transformaram seus cargos políticos em ascensão na vida e carreira profissional; c) muitos produzem poucos resultados, ganham bem e, ainda assim, adoram abraçar a mantra de contenção de gastos do prefeito, em claro paradoxo com as necessidades da cidade — que não são atendidas — e com o aumento salarial irrisório concedido aos servidores municipais.
A política brasileira sempre foi pautada pelo cenário tradicional que os políticos buscavam eleição e reeleição baseados em suas ações – concretas, palpáveis, com endereço. Caso isso não ocorresse, sua reputação era questionada. Atualmente, do Congresso à Câmara Municipal, a política é baseada no discurso de pânico moral, ao usar apelos religiosos e morais, com muito “gogó” e poucos resultados.
É dessa maneira que alguns vereadores foram eleitos: baseados apenas em sua homilia. Não possuem promessas concretas a cumprir. Do mesmo jeito, podem ser reeleitos para seu próprio benefício com um salário bem gordo. Tenho certeza de que aguardam isso. Alguém pode questionar: ‘em 2029 o custo de vida estará mais alto’. Eu respondo: em quatro anos, você recebe um aumento de 7 mil reais?
Num cenário em que o aumento fosse justo, não poderia ser uma porcentagem menor? Talvez, sim. Contudo, nem o argumento apresentado, de que o último reajuste ocorreu apenas em 2015, justifica diante da vida daqueles que os elegeram. Isso apenas confirma a máxima de que nem tudo o que é legal é moral.
Bom mesmo é a Suécia: o vereador não é assalariado; ganha apenas um subsídio pelo dia trabalhado, pois se ausenta do ofício de onde vem o seu sustento a fim de realizar sua atividade parlamentar. É lá também que os gastos públicos em favor pessoal se tornam escândalo no noticiário. A ostentação de uma vida que não condiz com o eleitorado também vira manchete.
Em Jacareí, na última sessão do ano, os eleitores estavam ocupados em seus trabalhos, nas finalizações de cursos e nas festividades. Foi nesse cenário que alguém teve a ideia de propor esse aumento. A proposta foi aprovada, com votos contrários dos vereadores Gabriel Belém, Luís Flávio, Marcelo Dantas, Maria Amélia e Valmir. Os vereadores ganharam um presente de Natal – o munícipe de Jacareí foi o Papai Noel da vez.

Gustavo Montoia é geógrafo e doutor em Planejamento Urbano e Regional pela UNIVAP. É docente dos Colégios Univap e da EE Francisco Feliciano F. da Silva (Verdinho) e pesquisador-colaborador do Laboratório de.jpeg
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