– Há um tempo tenho afirmado que sinto saudades da época em que esquecíamos os nomes dos nossos políticos. A despeito uma maior apatia política que existia, era fato que, uma vez eleito, os governantes trabalhavam e pouco apareciam para justificar suas atitudes. Hoje é o contrário, quanto menos trabalho, mais justificativa nas redes sociais, mais vídeos gravados no constante gerúndio com poucos resultados.
– Tem-se a sensação de uma campanha política permanente, algo extremamente cansativo, que apenas correligionários comentam. Haja exercício de oratória e edição de vídeo para falar de ações que, na prática, não mudam a vida do cidadão. Parece mesmo piorar.
– Entediante ainda é a necessidade de ficar comprovando que seus programas de governo, são, automaticamente, resultados de sua ideologia defendida a dentes. Ninguém acredita mais naquele que discursa por suposta família, mas aprova Leis que ferram o trabalhador, pai e mãe de família, ou que grita pelo fim da desigualdade social e favorece bancos e empreiteiras. Da esfera municipal à federal, o Brasil parece ganhar nos discursos e na hipocrisia de suas ações.
– É tanto falar que até ecoa texto bíblico, quando, no evangelho, Jesus adverte que não devemos ser como os fariseus, com suas longas orações em praça pública para todos observarem sua devoção, enquanto devoravam casas de viúvas. Não há espectro que se salve, estão todos borrados.
Robert Putnam, apresenta uma sugestão para mudança. Em sua obra Comunidade e Democracia, o cientista político enfatiza a necessidade de “apresentar produtos, não resultados”. O que isso significa? Não adianta uma administração pública, ao final de seu mandato, apontar estatísticas de melhora. – Não é crescimento em 50% da renda média do habitante que vai justificar sucesso do governo. O que realmente justifica é o salário do trabalhador ser capaz realizar uma boa despesa mensal, oferecer lazer e quitar dívidas. Não adianta falar que reduziu a mortalidade por acidente cardiovascular se ainda o cidadão enfrenta longas filas para ser atendido.
– Dessa maneira, podemos ainda exemplificar mais: não adianta falar de atendimento humanizado, se, ao marcar consulta, será apenas para o mês seguinte; se aumenta a frota policial, mas não reduz mortes violentas; se o Plano – Diretor atinge os objetivos do desenvolvimento sustentável se, na prática, não acontece nada. Não adianta gravar vídeos, se, no dia a dia da cidade, as ações apresentadas nunca acontecem perto da porta da nossa casa. Diretrizes podem até ser boas, mas colocar em prática é outra coisa.
– Quem sabe, a partir da apresentação dos produtos, sejam sincronizados os ideais tantos afirmados, sem falsos consensos, sem precisar falar “amém” para seu grupo, sem precisar só de justificativas. Postar todo dia em rede social é muito tempo de trabalho perdido.
Gustavo Montoia é geógrafo e doutor em Planejamento Urbano e Regional pela UNIVAP. É docente dos Colégios Univap e da EE Francisco Feliciano F. da Silva (Verdinho) e pesquisador-colaborador do Laboratório de Estudos das Cidades da Universidade do Vale do Paraíba. @semanariojornal e @gustavomontoia
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