CONHECENDO A HISTÓRIA

Benedicto Sérgio Lencioni

CEMITÉRIO VELHO

No então Bairro do Bom Sucesso existia um Cemitério que ficava no ponto onde hoje existe a Rua Dr. Pompílio Mercadante, que era o antigo caminho da estrada para Santa Branca em direção ao Parque Santo Antônio e ocupava o espaço que atingia a Rua Barão de Jacareí. É difícil estabelecer-se com exatidão os seus limites.

Recordo-me que, quando criança ainda com seis e sete anos de idade, morei numa casa na Rua Rui Barbosa, com quintal, onde hoje existe a emissora de rádio. Nesse quintal existia um muro de taipa e num dos buracos do muro encontrei assustado cabelos humanos. Essa visão apavorante ficou até hoje em minha memória.

Em pesquisas históricas fui encontrando aos poucos, nas atas da Câmara, informações sobre o Cemitério Velho. Em 10 de fevereiro de 1865 o presidente da Câmara deixando a cadeira para seu sucessor imediato nomeou uma comissão de cinco membros “entre si e fora para promover uma subscrição para levantamento de um cemitério em lugar apropriado. Foram nomeados os senhores Joaquim Antonio de Paula Machado, Bueno da Cunha, cônego José Bento de Andrade, Bento Joaquim da Costa e (como não poderia faltar) João da Costa Gomes Leitão. Em 5 de outubro do mesmo ano acima, foi determinada a quantia de 1:000$000 (um conto de réis) para a construção. Em 1868 foi mandado fazer o portão, que ainda hoje existe, pelo preço de 250$000. Seria interessante a sua conservação e uma placa indicativa. Entre os quatro muros existe a nossa história.

Com a construção do novo Cemitério no Avarehy bem afastado da pequena cidade, foi abandonado aquele do Bairro do Bom Sucesso. Ficava longe e os sepultamentos eram feitos a pé. Iam pelo aterrado do Avarehy mas, na época das grandes chuvas, o caminho ficava intransitável impossibilitando seu uso. A população usava então o leito da Estrada de Ferro, andando à margem de sua cama de cascalho, saindo da Estação em direção a São José.

A Avenida 9 de Julho era chamada de aterrado porque o terreno baixo e de subsolo provavelmente frágil, de turfa, exigiu inúmeros e caros aterros

Voltando ao Velho Cemitério. Feita a mudança do local para sepultamentos, o que foi feito ao chão antigo? Houve exumação total dos corpos? A leitura que fiz das atas da Câmara da época não traziam nenhuma

informação, o que julguei estranho, o que aumentava a minha curiosidade. Somente agora, na leitura das atas de 1890, é que o assunto foi esclarecido. O Velho Cemitério, cercado de muros de taipa, continuava dando problemas. Na sessão da Câmara do dia 3 de março de 1890 o membro intendente Rozendo de Macedo apresentou uma indicação por escrito em que dizia: “Proponho que a Intendência cogite e leve a fim o saneamento do Cemitério Velho no Bairro do Bom Sucesso urgentemente, reclamado pelos moradores do Bairro que, além do lado sanitário, tem ali um foco de formigueiros e outros animais daninhos”.

Na sessão da Câmara de 3 de janeiro de 1891 na discussão do pedido de aforamento de terrenos feito por Francisco Antonio da Costa, Manoel José de Sant’Anna e Benedicto Manoel Pinto Ferreira, foi despachado que a Intendência resolveu mandar dividir em lotes os terrenos do Bom Sucesso a ela pertencente concedendo preferência aos citados peticionários, mas com uma observação “depois da exumação”.

Esta antiga foto de Jacareí mostra bem à esquerda o aterrado do Avareí e o novo cemitério distante. Muitos usavam o leito da estrada de ferro que encurtava a distância (seta azul)

            Sabe-se agora que a mudança dos sepultamentos novos aconteceu sem que tivesse havido de pronto a exumação total do Velho Cemitério., pois na sessão da câmara de 18 de novembro de 1890 consta que o presidente determinou que se construísse uma urna para se “depositar os ossos atirados sem o devido respeito”. Como se concluiu, a mudança do cemitério foi feita sem que houvesse as exumações necessárias.

            O velho menino de agora, sabe porque encontrou cabelos no muro de taipa do fundo do quintal.

O chamado aterrado do Avarehy, um longo caminho de poeira ou lama para o Cemitério novo. (seta vermelha)

Benedicto Sérgio Lencioni é professor, historiador, advogado, pintor, escritor e político de Jacareí. Escreveu diversos livros sobre a história da cidade. Foi vereador por duas legislaturas e posteriormente também foi prefeito por dois mandados.

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