IMPRESSÕES E POSSIBILIDADES

A nossa cultura, frequentemente, nos encoraja a pegar atalhos e soluções rápidas/mágicas para alcançarmos tudo que desejamos e para o alívio de sofrimentos. Muitas pessoas que vivem experiências traumáticas de violência, ou de indiferença no ambiente, internalizam essas situações perturbadoras e, por proteção ou para evitar dor, se isolam e ficam em silêncio (refúgio psíquico).  O refúgio psíquico é um sistema defensivo que protege contra a ansiedade e a dor; fornece à pessoa relativa tranquilidade e proteção contra as tensões que a ameaça; no entanto, mantém-na paralisada, estagnada mesmo sendo disfuncional, um padrão que pode ser quebrado. É notável que, hoje, muitos não apresentem tolerância para investir tempo e se dedicar ao autoconhecimento, ao entendimento de seus conflitos, percepções, experiências de dor, desejos, crença, intenção, emoção e memória. É como se a pessoa ficasse acostumada e até dependente desse estado de estagnação mental. Romper algo que incomoda é mais trabalhoso do que mantê-lo como está. O enfrentamento e a compreensão da origem da dor e das soluções, que podem estar em um lugar emocional oculto e pouco definido, é o caminho para o entendimento dos enigmas da mente, para reconhecer pensamentos e emoções, restaurando o equilíbrio emocional e a capacidade de pensamento. Por vezes, nossos castelos sempre podem desmoronar. As palavras e reflexões podem oferecer novas perspectivas e aprendizados na reconstrução da história, com foco no bem-estar emocional e mental. Lembrei-me da exposição da obra do pintor impressionista francês, Claude Monet, à beira d’agua. Quando se observa um quadro, captamos e somos captados, sensitivamente, por ele em uma viagem sensorial sobre o que o pintor via no momento e a forma que sentia. Muitos sentem um rebuliço e borbulhar de pensamentos e despertar de emoções antes adormecidas ao apreciar uma tela, provocando uma reflexão sobre essas sensações, lugares, afetos e, sobretudo, a imaginação. Isso ocorre de forma única a cada indivíduo. Um olhar sobre a tela em que ele retrata a esposa Camille e o seu filho, à primeira vista, é uma cena doméstica, na qual se vê uma mulher bordando com o filho ao lado; à medida que nos aproximamos, entretanto, podemos ver no seu rosto serenidade, ainda que sem expectativas. Uma aparente satisfação também transmite solidão. A psicologia analítica propõe que o indivíduo busque o caminho da individuação e do autoconhecimento, desenvolvendo aspectos negligenciados da sua personalidade e reavaliando suas relações e percepções sobre si mesmo. Kandinsky diz que todos os fenômenos podem ser vividos de duas formas: a interior e a exterior. Observar a rua da janela é se manter na superficialidade, mas, ao abrir a porta, saímos do isolamento, participamos desse tempo e espaço, e nos tornamos agentes, vivendo a nossa pulsação em todos os nossos sentidos. Não existe drive-thru para aqueles que desejam que seus problemas sejam solucionados o mais brevemente possível, de preferência, sem muito esforço. Para enfrentar a dor, é preciso enxergar os conflitos. Só após enfrentar as sombras, o desconhecido de si mesmo, é que será capaz de ver a luz. Assim, seguimos, com as impressões e as possibilidades a nosso dispor, sem soluções mágicas. Desejo que neste Natal você possa olhar profundamente para seu interior e consiga escutar a si mesmo, enxergar novos caminhos de renovação e compreender que a todo instante estamos criando a vida em nós mesmos e nos transformando.

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